21 de ago. de 2010

A roupa adequada

Vivemos numa sociedade hipócrita, onde você e eu somos hipócritas um do outro. Você não suporta o meu estilo e nem eu o seu. Se saio de sunga, num dia de calor, você diz que fiquei louco. Se faz frio, e você sai agasalhado, trato de fazer galhofa e logo pergunto se está vindo de Aspen. E, nesta imbecilidade de indumentária, seguimos nos podando. Ao invés de juntarmos nossos estilos e criarmos uma grife, preferimos nos chamar de cafonas e nos maldizer pelas costas, porque pela frente somos só elogios. Assim caminha a imbecilidade, digo, humanidade, somos as matildes de nós mesmos. Usamos o mesmo ardil, porém com prismas diferentes. Outro dia, saí todo de verde e me disseram que eu estava parecendo um papagaio. E daí? Que tem isto? Prefiro a cor alegre que seu preto fúnebre. Mas, você não me respeita e se esquece que outro dia estava todo de alaranjado. Putz, que brega. Mas esta é minha opinião, porque, pelo visto, você estava se achando o máximo. Agora, façamos um trato: cachecol, chapéu e terno de inverno é demais para um calor desses? Mas moda é moda. Que cada se ache o tal pelo menos para si mesmo. O resto é falta de estilo. Melhor ter um estilo próprio e por fora, do que não ter qualquer estilo e ser mais por fora ainda.

Por Nelclier Marques, em homenagem aos diletos amigos Bruno Pena e Guilherme Martins de Araújo, face às boas risadas que demos na sede da OAB. A amizade sincera basta por si só, não precisa de subterfúgios.

Artesão

A vida sem arte é vegetativa

Viver é parição

Metamorfose sem metafísica

Desprender modismos

Aproximar-se da essência

Fulgor-prole-razão

Nós, simples ferramentas

Arte sui generis

Lua de uns

Marte de outros

Galáxias insondáveis da maioria

Achamo-nos todos artistas

Porém, vassalos somos

Ou escravos mesmos

Ninguém é dono da arte apropriada

É preciso nascer de si mesmo

Ser o artista da arte

Por Nelclier Marques

13 de ago. de 2010

Perfil de um canalha

Deve ser difícil fingir que nada está acontecendo. Deve ser difícil saber que nada faz de proveitoso. Deve ser difícil sempre se perder em tudo.

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Deve ser difícil fugir de pessoas que cobram coisas prometidas e não cumpridas. Uma vida vazia e insignificante. Rir deve ser um choro.

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Deve ser difícil ouvir todos reclamarem que algo útil precisa ser feito. Deve ser difícil saber que a vida é tão vazia, que nem a farra compensa.

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Deve ser difícil não ser amigo de verdade. Deve ser difícil não ter o que ser admirado. Deve ser difícil não ter equilíbrio moral e viver de inveja.

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Deve ser difícil pegar qualquer tarefa, mesmo a mais vil, só para se dizer "do grupo"...

Por Nelclier Marques

12 de ago. de 2010

Eu acredito no político

Talvez a prudência me diga para não escrever sobre política, uma vez que a própria política não se explica por si só, mas, mesmo sabendo destas conjecturas, ainda me arrisco. A cada dia que se passa, menos eu gosto de politicagem e mais eu me especializo em política. Quanto mais conheço do assunto, mais me previno, mais tenho cuidado. Já tive diversas experiências nesse setor e posso dizer que tive mais prejuízos que lucros. Lógico que o prejuízo foi o custo do aprendizado. Política é uma arte que se aprende na lida cotidiana. Além da curiosidade e da dedicação, há que se ter certo talento, um verdadeiro dom, pois lidar com pessoas não é fácil, ainda mais no setor político, que para mim junta os extremos da sociedade. De um lado temos os gênios, os aviões, os ricos; de outro, a classe maltrapilha, os desempregados, os puxa-sacos, os passa-fome, os aspones. Não digo que desta água não beberei, mas hoje, na realidade que vivo, eu não troco a minha privacidade, o meu anonimato, por candidatura, por amolação. A política tem destas coisas, muitas vezes é preciso ouvir um monte de ladainha travestida em reivindicações, para se apurar algo relevante. Infelizmente, o que mais há é gente que não tem o que fazer e vive atrás de político mendigando ou ameaçando favores. O segredo maior é que praticamente quase nada muda, nem o bolo e nem a receita. Mudam-se os agentes, mas a estrutura é tão grande que pouca coisa muda substancialmente, mantém o mesmo sabor. A sociedade vive sua correria, suas necessidades urgentes, porém, deveria conhecer e se inteirar mais dos assuntos políticos, ao invés de simplesmente condenar a classe. Dentre o joio, evidentemente, há excelentes políticos, que dedicam suas vidas pelo trabalho árduo que é remar contra a maré. Errado nem sempre é o que tem mandato, mas o tal do puxa-saco, aquele que vive por conta de fazer fofoca e espionagem, aquele maldito que arma, sabota, contamina, pois não trabalha e vive por conta de picuinhas. Estes são as formigas que pensam comandar o andado do elefante, incautos pensam apitar algo. Atentem-se, política é um jogo de cartas: o curinga de uma mão pode ser descarte da outra. Daí a importância de se ter humildade e investir na dedicação, no trabalho, na moral. Que as pessoas de bem, e não de bens, da política não se deixem infectar pelos dardos venenosos da escoria puxasaquista, pois construir uma nação depende de cada um de seus elementos, principalmente do político. Que a sociedade reflita sobre isto.

Nelclier Marques é escritor, psicólogo e acadêmico de Direito PUC/GO (8º período)

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