12 de mar. de 2010

ARTIGO PUBLICADO: Eu, um estranho de mim

.

.

Escrevi este artigo em abril de 2009 e o deixei maturando nos meus arquivos. Isto foi necessário porque, na verdade, fala muito de você, de mim, de todos nós. Artigos são crias e um bom pai deve zelar de seus filhos, até que eles possam ganhar o mundo. Muito obrigado pela atenção.

.

.

Eu, um estranho de mim

.

.

Nossas mentes vivem travadas. Dementes. Passamos o dia inteiro fingindo cortesia, mas não somos corteses. Eu não sou cortês e você muito menos o é. Vivo engessado, preso nesta armadura chamada corpo, que parece ter nascido no lugar errado. Eu sou o meu louco e o meu próprio analista. Às vezes me entendo. Nem sempre tenho dó de mim. Raras vezes me contento. Quando estou absolutamente só, até que sou mais eu. Em sociedade, porém, chego a me odiar, pois sei o que preciso fazer e não faço, insisto em ser eu mesmo, original, poético, profundo, lírico, sincero. Daí, sou chato, esquisito, maluco, besta, sei lá o quê. Até eu me estranho, pois vivo corrompido por paradigmas, modelos, padrões, moldes, exemplos, protótipos, que não me servem, não me cabem. Arquétipos me assustam, mas, quando sou ator, piadista, palhaço, sou agradável, sou parte de mim, algo do que posso, não tudo, mas adoro. Quando faço um de meus personagens, caras, risos, vozes, estilos, pois tenho várias faces, sou aplaudido, riem, comemoram, gosto, rio, deleito-me. Porém, quando sou eu mesmo, eu de fato, ser humano, gente, raso, desarmado, puro, límpido, transparente, confesso, nem eu mesmo me suporto. Quase sou morto, triturado, assado, macerado. A vida cobra que sempre pareçamos capazes, que sempre nos postemos elegantes, fortes, sobrenaturais, preparados. Pura besteira, propaganda, segregação, fraqueza, ingenuidade. A maioria tem medo, pois quem não tem medo é doido, não se preserva, expõe-se e morre. A maioria ensaia cem vezes para ver se na hora agá não escorrega e cai no chão. Viver, acredite, é melhor que sonhar. Quem muito planeja sempre adia e nunca faz, da mesma forma que quem sempre mete a cara logo morre. Meio termo. Mediano. Relax. Viver é dar drible na morte e curtir os prazeres sem medo de errar, sem a praga do pecado, invenção maldita que me persegue desde sempre, inferno do cão. Ah, quem me dera ser eu mesmo só para ver a reação dos meus pares. Viver é uma falsidade imensa. Sei que se eu fosse eu mesmo, a maioria nem me olharia na cara, ainda mais se eu falasse tudo que penso, sinto e vejo. Assustado? Que nada, de boa, você é que está sendo falso agora, pois pensa mais ou menos a mesma coisa, a única diferença é que não tem coragem de falar. Aliás, nem eu tenho, pois não falei nada, apenas imaginei. Isto é apenas uma divagação, eu não escrevi nada disto e nem poderia. Ê, vida, se fossemos todos sinceros, eu, você, todos nós, acredite, eu acredito, não seriamos homo sapiens, seriamos puros animais, macacos, bichos, cachorro, cavalo coiceiro, mula. Quando posso, escrevo o que eu penso. Quando devo, escrevo o que as pessoas querem ouvir. Desta maneira, vamos nos comunicando, até nos afunilarmos. Devaneios, quem não os tem? Não quero desarmar ninguém, se puder, apenas pense, abra a boca e diga alguma coisa, pelo amor de Deus. Diga que não estou só. Diga que você pensa e sente a mesma coisa. Devaneios? Talvez. Quem sabe isto já não seja um brilhante começo.

.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisa rápida no blog