Notadamente, para ser professor tem que ser artista. Cogitado algumas vezes para dar aulas, até hoje não descobri se, de fato, tenho estômago para tanto. A questão envolve várias vertentes, a começar da salarial. Acho um contra-senso total o que recebe um professor para suportar turma de alienados. Lógico que tem as turmas dos que se esforçam, mas o comum e corrente é de gente desligada. A realidade que vivemos é deprimente. Antes os alunos pareciam ter objetivos, sonhos etc. Agora parece que basta apenas ter um diploma. Muito poucos falam em fazer algo relevante. A maioria só visa excelentes salários. Feito coisa que diploma traz automaticamente remuneração, como se conhecimento fosse coisa de outro mundo. A análise começa até pela língua portuguesa, é uma tristeza o nosso linguajar. Das especialidades, tudo fica para depois, pois, de supetão, quase ninguém se arrisca a dar palpite. Mas, em agradável conversa com o meu amigo Maciste, professor em Caldas Novas, mudei algo da minha concepção pessimista a respeito do tema. No meu entendimento, ele me disse que dar aulas é preciso. Numa frase ele resumiu o método: “às vezes, tenho 13 aulas num dia, o cansaço não me vence porque me sinto num palco.” Ou seja, tem que ter profissionalismo e representar, pois assim terá condições de ministrar o que se propõe. O desinteresse vai ser vencido pelo tempo. Uns são novéis e não se importam, não sacam a necessidade de se dominar algo, mas um dia a conta chegará. Outros estão na repescagem e lutam contra o tempo, querendo aprender nova profissão. Muitos destes têm como adversário o cansaço de um dia inteiro de trabalho, sem contar os bobo-alegres que insistem em fazer da sala de aula um circo. Enfim, independente da realidade e da necessidade, cedo ou tarde, todos vão experimentar a necessidade real de se estudar. Eu não fico esperando esta hora, tento me antecipar. Enquanto isto, vou aprendendo o que posso e testando as ferramentas. Quem sabe, dentro do pouco que sei, um dia eu me decida a dar aulas. Até lá, sigo admirando os que já estão na lida e, apesar de todos os estímulos contrários, continuam se dedicando a nos ensinar algo.
Nelclier Marques é psicólogo, acadêmico de Direito na PUC Goiás (7º período) e escritor
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